Era uma terra sem leis, talvez por falta um soberano que conseguisse fazer dela seu domínio, ou talvez por excesso de soberanos sob o mesmo chão. O Continente de São Pedro foi conhecido como uma região instável no Novo Mundo, região que demorou a ser conquistada. Lendas tenebrosas, licantropos cruzando as planícies pampeanas, aquele era um verdadeiro cenário de terror para a Família. Poucos vampiros, idealistas ou insanos, seriam capazes de arriscar sua imortalidade para viver num território em guerra.
E a guerra foi a formadora da índole rebelde da província. No entanto, a rebeldia, por mais caótica que pareça ser, é sempre alimentada por sonhos. Em 1627, vieram os primeiros jesuítas para a Capitania d'El Rey – como o estado ainda é chamado pelos mais antigos. Sob o comando do Padre Roque Gonzalez, eles tinham o utópico objetivo de fazer um “Reino de Deus” nas Américas. Muitos afirmam que aquilo foi puro fanatismo da Lacea Sanctum, outros creem que o sonho nunca terminou. Porém, o que se sabe é que, após as invasões da Coroa Portuguesa, restaram somente ruínas dos Sete Povos.
Mas a morte de uns é nascimento de outros. Nesta mesma época, a pequena vila de Porto dos Casais, foi declarada capital e rebatizado como Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre, após a captura de Rio Grande pelos castelhanos em 1772. Assim nasceu uma cidade em meio a guerra. Seu fundador, Príncipe Silva Paes, dizia que “a nova capital não cairá jamais.” Ele tinha razões em temer, porque antes de Rio Grande, Silva Paes também havia fundado Colônia de Sacramento que, da mesma forma, foi tomada pelos príncipes da Espanha.
Porto Alegre de fato nunca caiu. Cidade construída como acrópole defensiva, cercada por muros, prédios públicos no topo da colina da matriz e com um forte erguido junto ao porto. Foi a capital mais próxima do teatro de operações – quando não foi o próprio teatro – durante as Invasões Castelhanas, Guerra da Cisplatina, Guerra dos Farrapos, Guerra contra Rosas, Guerra contra Aguirre e Guerra do Paraguai. Ela era então chamada de “Leal e Valorosa”.
Em 1890, já tinha 50 mil almas e a paz reinava. Os muros haviam sido derrubados, o forte não passava de uma pequena prisão e todos viviam no conformismo republicano. Porém, aquilo era apenas uma trégua aparente, pois a cidade também tinha sua besta interior adormecida. A sociedade mortal entrou em crise com a Revolução de 1893, o príncipe controlava as massas com sacrifícios e degolas coletivas. A Lancea Sanctum, sempre forte, não admitia que aquele líder sem coalizão continuasse com seus métodos arcaicos. Iniciou-se uma caçada contra General Silva Paes, sendo deposto pelo Deva Júlio Serrat, que então assumiu o poder se intitulando Arcebispo, fazendo a Lancea Sanctum soberana – um desejo desde os idos tempos das Missões. A província foi erguida sob os princípios cristãos, e pelos cristãos deveria ser governada, assim dizia Serrat.
Osuanlele Erupê era um monarca africano de Benin. Membro do Circulo da Anciã, veio para a cidade em 1904, após ter uma visão da deusa, adotando o nome latino de Joaquim Custódio. Suas práticas religiosas despertavam a atenção de muitos, inclusive do povo comum que procurava por ajuda. Segundo os conservadores, Custódio comprometia a máscara, pois, em poucas décadas, a cidade toda conhecia aquele curandeiro misterioso de mais de cem anos. Comentava-se, inclusive, que Porto Alegre tinha dois príncipes. Algo inaceitável para Júlio Serrat, cristão fervoroso, que logo começou uma ofensiva contra Círculo da Anciã. Após anos de confronto, a situação foi decidida num duelo entre os dois líderes. Em 1931, depois de ima luta sangrenta, o Arcebispo Serrat saiu vitorioso. O corpo de Joaquim Custódio foi levado entorpecido por seus seguidores. Ele nunca mais foi visto, restando apenas seus costumes que continuam fortes nas classes mais baixas. O Circulo da Anciã se mantém oculto desde a queda de seu mestre. Poucos sabem o que planeja a coalizão.
Após a Primeira Guerra, a indústria porto-alegrense se fortaleceu como um dos principais polos produtivos. Antes do século XX, os Invictus não tinham pretensões pela selvagem Capitania d'El Rey. Afinal, era uma zona fronteiriça, conturbada e longe dos centros políticos. No entanto, um membro fez ali seus domínios. Conde Roberto LaFitre, um Ventrue expulso da França, foi o introdutor da filosofia positivista no estado, vendo ali a oportunidade de aliar o poder econômico com o poder militar. Com a capitalização burguesa pós Primeira Guerra, a cidade rebelde expõe suas garras. Nela se inicia a Revolução de 30 e toma o governo federal. Quem seriam os arquitetos daquele movimento? Apesar da conspiração não ser tão facilmente compreendida, a presença de Lafitre é inegável. Onde os Invictus não são dominantes, são negociantes. Dizem que Conde LaFitre foi capaz de aliar Invictus e Lancea Sanctum de outras capitais para o controle do poder central. Mais tarde, algo semelhante ocorreria no Regime Militar, não seria coincidência que a maioria dos ditadores fosse originária da Província de São Pedro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, chegou uma grande leva de perseguidos europeus. Entre os refugiados, estavam alguns seguidores da Ordo Dracul, liderados pela misteriosa Catarine Abramo. O Príncipe não estava disposto a permitir aquela presença que, apesar de ter pouquíssimos membros, poderia representar problemas futuros. A Coalizão argumentavam que Porto Alegre estava sob uma linha espiritual poderosa, e que um mal grandioso estava por acontecer. O dragão previu a catástrofe. Em 1941, iniciou uma chuva interminável, o Guaíba cobriu as ruas da cidade. Arcebispo Serrat imaginou que aquilo era um castigo divino, um dilúvio dos céus. Catarine Abramo discordava, ela dizia que aquilo não era um castigo, mas sim, um aviso de algo pior se os espaços sagrados continuassem profanados. Uns falam que aquele foi o maior blefe da história. Porém, Príncipe confiou nas palavras de Catarine e aceitou a presença Ordo Dracul – apesar da confiança, por precaução ele também ergueu um dique de mais de 3 metros de altura ao longo do porto.
Após décadas marcadas por greves e crises, a cidade viu o Movimento Cartiano crescer como um novo poder que encontrou em Porto Alegre o lugar perfeito para aliar rebeldia e utopia. A Coalizão, até os anos cinquenta, era tida como um bando de subversivos. Porém, eles mostraram a que vieram em 1961, fornecendo amplo apoio à Campanha da Legalidade. Mais uma vez, a cidade era o foco de uma resistência politico-militar em proporções nacionais. O evento terminou com a vitória dos “subversivos” e o Arcebispo Serrat iniciou uma caçada para bani-los do principado. Os anos de chumbo não foram suficientes para destruir os cartianos, pelo contrário, a perseguição foi mais um incentivo a mantê-los unidos numa guerrilha urbana. Por trás de movimentos sociais e grandes paralisações sempre havia um guerrilheiro. Na década de oitenta, a sociedade mortal se redemocratizava, e o Príncipe Serrat retoma as negociações, firmando uma tregua com Armando Ferraz, líder do Movimento Cartiano. A esta altura, a coalizão já havia formado uma política paralela pelos becos, vilas e favelas que cresceram entorno da “cidadela burguesa”. Lá, a palavra do Príncipe não é ouvida. Assim, Porto Alegre se tornou conhecida por sua posição de esquerda, tendo seu ápice no Fórum Social Mundial, evento apoiado pelos cartianos de diversas regiões do globo. Muitos já se antecipam, sentenciando o fim do autoritarismo da Lancea Sanctum, que assim como eles, um dia também buscou fazer a utopia na terra. O que ninguém sabe é quando a besta acordará deste sonho.
1627: Jesuítas espanhóis fundam missões guaraníticas junto ao rio Uruguai. Padre Roque Gonzalez, membro da Lancea Sanctum, se proclama príncipe geral da Capitani d'El Rey.
1648: As primeiras missões jesuíticas entram em decadência . Padre Gonzalez transfere seus homens para a cidade de Assunção. O indígena cristianizado José Maria Tiaraju é abraçado.
1680: Fundada a Colônia de Sacramento, primeira povoação de Portugal nas imediações do Rio da Prata. O Gangrel General Silva Paes se intitula príncipe.
1687: Jesuítas retornam para o Continente de São Pedro e fundam os sete povos nas proximidades do Rio Uruguai sob a liderança de Tiaraju.
1737: A cidade Sacramente cai em mãos castelhanas. O príncipe Silva Paes recua para o norte e fundada a cidade de Rio Grande, capital do Rio Grande de São Pedro.
1750: Tratado de Madrid garante a posse portuguesa sobre o território. Início da escravidão, trazendo consigo cultos africanos desconhecidos.
1752: Chega a primeira leva de açorianos na capitania, se estabelecendo na margem leste do Rio Guaíba, no então chamado Porto dos Casais.
1759: As Missões Jesuíticas são destruídas por tropas portuguesas e espanholas (fala-se em influência do príncipe Silva Paes nesse conflito). Durante a guerra, o líder missioneiro José Tiaraju vira um mito e é santificado como “São Sepé”. Os sobreviventes se dispersam.
1763: O Príncipe de Buenos Aires, Don Ceballos, um Lancea Sanctum, invade a cidade de Rio Grande. O general Silva Paes é expulso e foge para Viamão.
1772: Porto dos Casais é elevada à categoria de Freguesia e se transforma na nova capital com o nome de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre.
1776: A cidade de Rio Grande é reconquistada.
1801: Os territórios das missões são anexados à Província do Rio Grande do Sul. Terminam os conflitos com os espanhóis após um pacto entre o príncipe Don Caballos de Buenos Aires e Gen. Silva Paes de Porto Alegre.
1824: Primeiros imigrantes alemães no estado se estabelecem no vale do Rio dos Sinos, ao norte de Porto Alegre.
1825: Guerra da Cisplatina. Don Ceballos ajuda a expulsão das forças brasileiras do Uruguai.
1835: Revolução Farroupilha. Silva Paes auxilia os imperiais e Porto Alegre recebe o título de “Leal e Valorosa.” A Lancea Sanctum apoia, secretamente, os revoltosos.
1851: Inicia Guerra contra Rosas, General Silva Paes apoia ofensiva contra Don Ceballos em Buenos Aires. Arcebispo Serrat se estabelece em Porto Alegre.
1864: A província é invadida por forças paraguaias e envia grande efetivo humano contra Solano Lopez. Inicio da imigração italiana.
1889: Brasil se torna uma República. Sem o apoio imperial, Silva Paes se enfraquece. Conde LaFitre chega a província.
1895: Caçada contra Silva Paes. O conflito tem como pano de fundo a Revolução de 93. O General Gangrel é morto pelas forças da Lancea Sanctum. O Deva Serrat é intitulado Príncipe. Construção das primeiras faculdades, do novo Palácio de Governo e da Catedral Metropolitana– não por acaso, um ao lado do outro.
1900: Osuanlele Erupê, monarca africano de Benin recebe visão da grande mãe e viaja para Porto Alegre. Ele muda seu nome para Joaquim Custódio. Inicio das atividades do Circulo da Anciã.
Década de 20: A doutrina positivista toma conta do governo mortal. Fim da Primeira Guerra trás refugiados a cidade. Suspeita-se da presença de magos entre eles. Surge burguesia de Porto Alegre com a crescente industrialização no Vale dos Sinos. Início dos conflitos entre Príncipe Júlio Serrat e “Príncipe” Custódio.
Década de 30: Revolução de 30, Porto Alegre lidera levante contra governo central. Fala-se da influência de Invictus e Lancea Sanctum no evento. Custódio perde duelo contra Arcebispo Serrat.
Década de 40: Segunda Gerra Mundial trás nova leva de refugiados, entre eles judeus e outros fugitivos. Presença da Ordo Dracul que “prevê” o diluvio de 41.
Década de 50: Movimento Cartiano incita greves e paralisações na industria sob a liderança de Armando Ferraz. Vargas é “suicidado.”
Década de 60: Campanha da Legalidade recebe apoio do Movimento Cartiano porto-alegrense e acaba vitorioso em 1961. Início da caçada promovido por Serrat contra Cartianos. Golpe Militar em 1964, suspeita-se da influência de Invictus e Lancea Sanctum.
Década de 70: Anos de chumbo. Movimento Cartiano sub-existe como guerrilha. Sua influência aumenta com o crescimento da periferia urbana.
Década de 80: Guerra das Malvinas, Príncipe Ceballos é um dos financiadores do confronto. Redemocratização da sociedade mortal. Movimento Cartiano e Lancea Sanctum assinam trégua. A cidade sofre estagnação industrial.
Década de 90: Porto Alegre elege governo de esquerda. Movimento Cartiano arquitetam um grande evento em resposta ao Fórum Econômio Mundial de Davos, Suíça.
Anos 2000: Fórum Social Mundial nasce em Porto Alegre que recebe cartianos de todo globo. Alguns especulam sobre a decadência da Lancea Sanctum.
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